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Os Meninos de Altamira: a história macabra do próximo documentário do Globoplay

Diante do sucesso do O Caso Evandro, era óbvio que o Globoplay ia seguir apostando no gênero true crime. E não demorou para o...

13 Jun 2021 às 08:40
CanalTech
Foto: (Imagens:Reprodução/Globoplay)

Diante do sucesso do Caso Evandro, era óbvio que o Globoplay ia seguir apostando no gênero true crime. E não demorou para o serviço de streaming confirmar que uma nova série do gênero feita pela mesma equipe já está sendo produzida, quase como uma espécie de sequência. Desta vez, no entanto, o foco vai ser o caso que ficou conhecido como “Os Meninos Emasculados de Altamira”. Mas o que a gente pode esperar desse documentário?


O caso em si é repleto dos mesmos absurdos que vimos com Evandro: morte de crianças, supostos rituais de magia negra, investigações questionáveis, problemas processuais e um debate legal que pode ter deixado inocentes na cadeia. E as semelhanças não são por acaso: os dois crimes aconteceram em períodos muito próximos e em circunstâncias parecidas — e, não por acaso, a própria polícia chegou a relacionar esses eventos na época, mas sem chegar a nenhuma conclusão. Ainda assim, esses eventos chegam a ser mencionados no episódio extra de O Caso Evandro.

Justamente por essas similaridades, o criador do podcast Projeto Humanos: Caso Evandro e consultor do documentário do Globoplay, Ivan Mizanzuk, anunciou que já está revendo os processos relacionados aos meninos de Altamira e investigando toda essa história para as próximas temporadas dos dois programas.

O caso

Os crimes aconteceram entre os anos de 1989 e 1992 na cidade de Altamira, no sul do Pará. A princípio, era uma série de sequestros de meninos entre 8 e 14 anos, mas logo desandou para algo maior e ainda mais macabro: os corpos dessas crianças começaram a ser encontrados mutilados, principalmente na região das genitais. Em alguns casos, também havia sinais de tortura, violência sexual e remoção de órgãos.

Ao todo, foram seis crianças mortas nessas condições brutais e outras cinco seguem desaparecidas até hoje. Além disso, três meninos sobreviveram a esses ataques, apesar de também terem sido emasculados — ou seja, castrados. Os relatos sobre as condições em que esses garotos foram encontrados são chocantes.

As vítimas tinham idade entre 8 e 14 anos (Imagem: DigoTV Club/Reprodução)

Todos esses fatos chocaram o Brasil e o caso segue sendo considerado um dos mais bárbaros do país, tendo inclusive repercussão internacional. O problema é que, apesar de todas as atenções estarem voltadas para o município que, na época, tinha pouco mais de 65 mil habitantes, as investigações pareciam não sair do lugar.

Uma das primeiras hipóteses levantadas pela polícia do Pará, em 1990, era de que os crimes foram cometidos por um morador de rua que vivia na cidade. Rotílio de Souza foi reconhecido por duas das crianças que sobreviveram ao ataque e acabou preso. Apelidado de “o monstro de Altamira”, ele morreu pouco tempo depois na delegacia da cidade em condições consideradas misteriosas até hoje — ele estava sozinho dentro da sua cela e não havia indícios de que se tratava de suicídio.

O problema é que, mesmo após a prisão e a morte de Rotílio, mais crianças voltaram a ser emasculadas em Altamira, o que forçou a polícia a seguir por outra linha de investigação. Desta vez, as suspeitas seguiram para uma suposta organização de tráfico de órgãos de crianças, uma teoria que ganhou força principalmente pela forma com que os corpos eram encontrados, com cortes aparentemente precisos e, em alguns casos, a remoção de órgãos, como os olhos.

Por causa disso, suspeitou-se de que dois médicos que haviam se mudado há pouco tempo para a cidade de Altamira — Césio Brandão e Anísio Ferreira de Sousa — e poderiam estar relacionados aos crimes. Eles chegaram a ser detidos e a prestar depoimentos, mas tudo foi considerado inconclusivo e, sem provas, o processo acabou sendo deixado de lado por um tempo. Isso até que a hipótese de ritual de magia negra surgiu.

A seita LUS

O caso dos meninos de Altamira seguiu sem grandes avanços por algum tempo até que, em 1993, ele foi reaberto após a polícia passar a investigar uma suposta seita satânica que estaria atuando no país. Diante da brutalidade dos crimes, seu modus operandi e o perfil das vítimas, a possibilidade das mortes e mutilações estarem relacionadas a um possível ritual de magia negra começou a ser cogitado — principalmente porque, um ano antes, havia estourado o próprio caso Evandro, no Paraná, em que sete pessoas foram acusadas disso em um assassinato em condições bem semelhantes.

A polícia chegou a encontrar capuzes e mantos que seriam usados pelos membros da LUS em rituais. Imagens aparecem no documentário Caso Evandro (Imagens:Reprodução/Globoplay)

E é aí que entra o Lineamento Universal Superior, ou apenas LUS. Tratava-se de yn grupo esotérico da época fundado pela paranaense Valentina de Andrade e que misturava elementos místicos com ufológicos — algo que era bem comum em movimentos New Age da década de 1970 e 1980 mundo afora —, com um número relativamente pequeno de adeptos no Brasil.

Na época, testemunhas afirmaram que os dois médicos que haviam sido investigados anteriormente por tráfico de órgãos faziam parte desse grupo e que o assassinato das crianças estava relacionado a algum tipo de ritual macabro da seita. A teoria ganhou força quando as investigações chegaram a um livro escrito por Valentina, chamado Deus, a Grande Farsa, em que ela apontava as crianças como algo maligno. Além disso, imagens de uma suposta reunião do grupo mostram um homem dizendo “matem as criancinhas” — segundo algumas pessoas, porém, ele diz “mas tem as criancinhas”. Tudo isso é mostrado no episódio extra de O Caso Evandro.

De qualquer forma, o surgimento dessa suposta seita serve de base para a polícia do Pará indiciar os acusados pelas mortes dos meninos de Altamira, que vão a julgamento. Anísio e Césio são condenados junto com outros dois homens — um policial militar e o filho de um fazendeiro da região. Valentina também é indiciada, mas é inocentada pelo tribunal do júri.

Embora tudo isso pareça um roteiro de filme e uma conclusão que, de certa forma, parece fazer sentido, é aqui que os problemas relacionados ao caso começam a aparecer — e o que deve ser aprofundado na próxima temporada do Projeto Humanos e da série do Globoplay.

Em uma conversa no podcast Anticast de junho de 2020, Ivan Mizanzuk destaca algumas das incongruências relacionadas à existência dessa suposta seita satânica, a qual ele acredita nunca ter existido da forma com que a polícia apresentou. “Em 1992, Valentina é investigada pelo sumiço de Leandro Bossi, em Guaratuba, e uma revista da época dá destaque a esse fato. Então alguém, em Altamira, vê a matéria na revista e diz que viu essa mulher em um ritual satânico”, explica o jornalista no podcast. “Já existia essa teoria do ritual e a história então se fecha com ela”.

Para Mizanzuk, o caso dos meninos de Altamira parece estar muito mais relacionado ao chamado pânico satânico, um fenômeno bastante comum nos Estados Unidos, que relaciona crimes a teorias da conspiração envolvendo religiões e até determinados comportamentos e que tenta encaixar homicídios do tipo como se fossem práticas de magia negra — algo que também aconteceu com o caso Evandro.

“O desespero do caso de Altamira é que tem gente que está presa até hoje, que perdeu a vida inteira”, continua Mizanzuk em seu podcast. “Mesmo tendo um serial killer notável assumindo os casos, as pessoas não foram absolvidas”.

serial killer

Sim, como se o caso não fosse rocambolesco o suficiente, há ainda a possível participação de um serial killer na história e que expõe ainda mais a fragilidade judicial do caso.

Isso porque, apenas seis meses após os julgamentos, uma nova onda de sequestros e mortes de crianças foi registrada no Brasil, desta vez em cidades próximas a São Luís, no Maranhão. Ao todo, 30 crianças foram mortas em condições semelhantes e, em 2003, Francisco das Chagas foi preso e condenado por esses crimes. Ele ainda é considerado o maior serial killer vivo no país.

Francisco da Chagas foi preso no Maranhão após matar dezenas de crianças no Maranhão (Imagem: Gabriel Frost/Wikipedia)

E as semelhanças entre as mortes no Maranhão com as em Altamira fizeram a polícia do estado nordestino relacionar os dois casos. Ao questionarem Chagas, ele assume a autoria das emasculações em Altamira. Segundo as autoridades, o serial killer realmente esteve algumas vezes no município paraense e as datas coincidem com os assassinatos dos meninos.

O problema é que a polícia do Pará não aceita a versão do serial killer, chegando a alegar que a confissão teria sido forjada para tentar inocentar os condenados. Para complicar ainda mais, Chagas é levado até Altamira para fazer a reconstituição dos crimes e ele passa a dizer que não reconhece os locais e nega a autoria das mortes.

Só aí já dá para ver o tamanho do enrosco. Há quem diga que Francisco das Chagas sofre de transtornos mentais e, por isso, suas versões são tão conflitantes. Por outro lado, há quem veja nele apenas um bode expiatório, alguém apresentado para assumir um crime que não cometeu para livrar outra pessoa.

Enrosco judicial

Diante do aparecimento de um notório serial killer alegando a autoria dos crimes, é de se imaginar que o caso seja reaberto para apurar o que realmente ocorreu, não? Pois não foi o que aconteceu, já que as idas e vindas de Chagas em suas versões impedem que a sua fala seja considerada uma prova e, por isso, a Justiça não tem como reabrir o caso. E a família dos condenados tenta há décadas tornar essa confissão válida.

A situação é tão complicada que já chegou ao Supremo Tribunal Federal (STF). Em um habeas corpus emitido pelo ministro Marco Aurélio Mello, ele descreve o caso como “o maior erro judiciário da Justiça brasileira”. Ainda assim, o caso não andou mais.

E é a partir dessas dúvidas que o podcast e a série devem partir. Ainda não há uma data para quando eles serão lançados, mas o fato de ser a mesma equipe responsável pela série O Caso Evandro é um sinal de que devemos ter algo grande e impactante a caminho.

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