Especialistas em propriedade industrial dos Estados Unidos perceberam algo importante: houve uma “queda drástica” nas consultas de empresas chinesas interessadas em alugar ou comprar terrenos no México. Essa tendência tem uma explicação simples — mas também um efeito colateral igualmente significativo.
No seu primeiro mandato como presidente dos EUA, Donald Trump começou a aumentar as tarifas sobre produtos fabricados na China. Isso levou as empresas chinesas a “fazer um desvio” e adotar um plano B para continuar vendendo no mercado norte-americano. Esse desvio consistiu na criação de fábricas no México. O país se beneficiava do Tratado entre México, Estados Unidos e Canadá (T-MEC ou USMCA, na sigla em inglês), que permitia o livre comércio de mercadorias sem tarifas, desde que certa porcentagem delas fosse fabricada na América do Norte.
No entanto, esse tratado foi esvaziado com o agravamento da guerra comercial que os Estados Unidos mantêm não apenas com a China, mas também com outros países. Entre eles está o México, submetido, assim como o Canadá, a tarifas significativas de 25%. Isso gerou uma clara incerteza sobre como isso afetará o comércio de mercadorias de fabricantes chineses produzidas no México: o T-MEC será revisado no ano que vem e já sofreu o impacto das tarifas sobre ferro e alumínio.
Brasil e Sérvia, novos destinos
Em vez do México, os fabricantes chineses estão começando a buscar novos destinos para suas fábricas fora do país e miram especialmente quatro lugares: Brasil, Sérvia, Hungria e Arábia Saudita. No país sul-americano, por exemplo, a BYD iniciou um projeto importante para a construção de uma planta de produção de seus veículos na Bahia. Esse projeto, no entanto, enfrentou problemas após a revelação de que 160 cidadãos chineses estavam trabalhando em condições tão precárias que alguns compararam à escravidão. A empresa também possui fábricas em construção em Szeged (Hungria) e em Manisa (Turquia), com início das operações previsto para 2026.
Na Europa, esse interesse específico da China por países como Sérvia e Hungria está centrado nos setores de veículos elétricos e energias renováveis, embora também existam indústrias relacionadas, como a de fabricação de pneus. As políticas europeias são muito menos restritivas que as dos EUA para esse tipo de investimento e, para as empresas chinesas, esses projetos são especialmente atrativos porque permitem criar infraestrutura do zero e controlá-la integralmente. O presidente da China, Xi Jinping, visitou esses países em maio de 2024 como uma clara demonstração de sua intenção de se adaptar à nova realidade dos mercados.
A Iniciativa do Cinturão e Rota
Em 2013, o governo da China lançou uma estratégia de desenvolvimento e cooperação internacional chamada Iniciativa do Cinturão e Rota. Esse projeto visava impulsionar o comércio por meio de rotas terrestres de transporte rodoviário e ferroviário. Sua relevância foi diminuindo ao longo dos anos, mas Hungria e Sérvia mantiveram seu compromisso com a estratégia. A maioria dos países europeus que participaram da iniciativa reduziu seu envolvimento por, entre outras razões, perceberem como as crescentes exportações de veículos elétricos chineses têm prejudicado a indústria automobilística europeia.
Analistas como Jake Lee, agente de propriedade industrial em uma empresa norte-americana, afirmam que esses movimentos fazem parte de uma estratégia em constante mudança. “É como passar da defesa para o ataque”, explicou Lee. Para esse especialista, os EUA eram um mercado-chave para os fabricantes chineses, mas a instabilidade nas relações com a China fez com que o foco no país norte-americano diminuísse consideravelmente.
Já vimos como a indústria automobilística está “se mudando” para países como Brasil, Hungria ou Sérvia, mas a indústria de energias renováveis também está buscando novas saídas. Ocean Yuan, da empresa de equipamentos de energia solar Grape Solar, observou como os EUA ameaçam eliminar os créditos tributários que eram concedidos a esse setor. Agora, essa e outras empresas chinesas que haviam investido no país estão considerando a possibilidade de vender essas usinas para empresas norte-americanas. Esses investimentos agora enfrentam um futuro incerto, e essas companhias estão buscando novos destinos, como os do Oriente Médio, para expandir sua presença internacional.
Este texto foi traduzido/adaptado do site Xataka Espanha.